sábado, 27 de junho de 2009

A rua II


Naquele mundo suburbano só há anjos e demonios,
caminhando nas espadas e nos filamentos da alma.
Naquele fim de mundo onde Deus esqueçeu a bola
e os meninos, a rua é uma cobra se espichando
nos pigmentos de plasma.
Onde Deus esqueçeu as mulheres
a rua amarela é um dragão de comodo.
Deixem Utrillo passar!
Deixem Ivan passar com cavaletes, pinceis e tintas
naquela rua das deformações, das trombetas,
na infancia inchada do cérebro.
Deixem Munch passar, pois o tempo devora.
O tempo da matéria devora.
Não esqueçam de levar arco-iris, sonhos,
Guimarães Rosa, Sertões e Veredas.
Deixem Quintana dedilhar versos em arpas imaginárias.
Deixem Gullar, Lorca, Baudelaire, Pirandelli, incharem a rua,
a rua sem peso.
Não esqueçam de levar cantos gregorianos, boleros, óperas,
Valsas, Luciano Pavarotti e a cachaça.
Enfim, entretando, entre tantos na viscosidade pegajosa da tarde,
ver a construção de um novo rumo aos caminhos das lesmas.

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