quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A industria do Silêncio: Pasárgada


A lei de pasárgada é destruir um leão
construir ruinas arquiológicas na mente.
A lei de pasárgada é contruir o novo,
a solidão em si.
Lá sou amigo do eu
dos passáros, dos felinos, lá sou
amigo do vinho e da cachaça.
Lá o tempo parou,
o tempo tanje as avenidas:
são cortes de sangue, labaredas dilucular
dos sonhos.
Em pasárgada as janelas são olhos
pungentes de Ibens, Nietzsche, Sartre e o
pranto de desalento, desencanto de Heidegger e Otto.
Cada janela é um despertar, um desvelar.
Contruir, contruir faz parte desse poço de memórias em pasárgada.
E nas minhas gaiolas, o som estridente alinhamento de lágrimas,
nas savanas, nas arribações, no silente assoviar da vida,
em metafísica, em pasárgada que muda, transforma,
pigmenta nuvens, moí, reforma, muda, sonha, morre peregrino
e constata para si que é inútil lutar contra o egoismo, a usura,
a mentira. Aqui não sou feliz!
E quando eu estiver triste, triste de não ter jeito, quando me der vontade
de me matar - lá a raça humana foi extinta, ceifadas com seus fracassos.
Lá escolherei o orvalho que enlaça a madrugada e a pureza das manhãs!
Por ti, oh pasárgada!
POEMA DO BARDO, CARDO, OTTO GRIBEL.
A MEIO CAMINHO DA EXISTÊNCIA E ESSÊNCIA

Na metade matemática do caminho do poeta italiano Dante /
havia uma selva escura que levava a um canto do inferno cantado pelo vate /
Era a metade do caminho da vida do poeta : a meia-idade talvez /
o tempo naquele tempo em que o homem encetava o caminho para o túmulo /
cavado antes em cova na terra /
onde o corpo repousaria sob o solo /
na parte inferior da terra /
que os antigos denominavam conotativa e denotativamente de inferno /
ou lugar onde habitam os mortos /
No meio caminho do poeta Carlos Drumond de Andrade /
não existia nem floresta negra ou turva /
nem havia uma pedra /
mas tinha uma pedra /
Rigorosamente na exatidão poética do meio do caminho /
o poeta tinha uma pedra /
possuía uma pedra no meio do caminho /
era dono e senhor de uma pedra que lhe estorvava metade do caminho /
Havia e tinha uma pedra pelo meio cortada no seu ser de pedra /
pedra meio ontológico e meio objeto de posse e propiedade de senhores /
no ter do ato de posse que caracteriza a atitude possessiva do homem /
Ente com a metade no ser /
e a outra metade pétrea fora da ontologia /
encravada no direito de propriedade na metade do ato de ter suscitado pelo homem /
( um ser meio fora do ser /
e uma possessão estilhada no espírito do poeta /
graças a algum acidente /
que jogou metade da pedra para fora do ser /
na existência onde a outra metade /
a metade que se pode possuir como pedra preciosa /
pairou entre a essência e a existência
a cavaleiro do nada poético ou filosófico ) /
O canto de Carlos Drumond de Andrade dicotomiza ser e ter : /
o ato de possuir e o fato de ser /
num amplexo que extrapola a ontologia e ao ato possessivo humano /
o ser da pedra captado pelo saber do homem enquanto indivíduo livre /
e o ter a pedra capturada e industrializada em gemas ou castelos medievais /
pela sociedade que transforma a pedra e a põe no mercado /
sendo o mercado o meio do caminho /
onde o homem não pode mais passar /
tolhida sua liberdade pela propriedade da pedra /
e pela metade do seu próprio caminho que não mais lhe pertence /
alienado que foi pela industrialização da pedra /
quando ainda tomava apenas metade do caminho /
Hoje o caminho está hermeticamente fechado /
e quem invadir a propriedade estará sujeito às penas da lei e da fênix /
porque simultâneamente há e tem uma pedra no meio do caminho /
Há e tem um monstro no meio do caminho /