quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A luta.


A luta, despojos de guerra, guerra santa, cristal negro, no corte lâminado dos projetos. A luta primitiva, descoberta, em estado de bronze. Estátua que compõem a natureza mutante. Abrindo as degoladas vozes, no silêncio, no sangrar da alma, passando lenta, lenta em cada pedaço de vidro e desfolhando o olhar amarelo do dia.

Pedras na estrela da tarde

Entre pedras e ruas somente pedras rolam para o encontro das poças, dos charcos, pedras que se transformam em seixos na rua do ermitão. Entre tabocas, raias e pipas, roio roça a parede da casa. Casa com aspecto de castelo medieval. O choro dos seixos, perdidos no cascalho molhados por lágrimas, sangue, lamina que reluz na tarde fria. Agora não resta foligem, ferrugem, passeio, sorvete, absintos, camélias e canções. No fundo desse mundo só há lagrimas que caem nas pedras entre margaridas tristes. A espiga do milho cravou dentes de Picasso nos olhos das pedras. E entre seixos e ruas a solidão ganhou o mar profundo no corpo do ermitão. Minerais, cavalos marinhos, estrelas, traço de giz riscando a louça e na ribalta um grito de ademanes anuncia com dor a morte das anêmonas na estrela da tarde.

América.



Fósseis, cárceres e lume do país dos ossos. Vertendo o dia, voraz fachos de luz, cortando o azeite fino da América. Traço sinfônico das lágrimas, desfazendo-se em fímbria tonalidade, dos arquitetos, dos engenheiros, dos urubus. E na imobilidade da vida, o soar do sino da terra brasileira. Clamando por ti, por mim e pelos miseráveis. Cortejo de luto desmedido e o cheiro, esse cheiro veloz dos trópicos penetrando na imensidão dos ossos.
Sirene
Não é Irene
É pavlov ao longe
Ciscando a mente.
Não é Irene que passa faceira
Nos dias quentes das margaridas.
É a sirene dos escravos, dos homens máquinas.
Ecooa como trovão maltratando o tempo,
Repetidamente vooa pelos ares saturado de maritacas,
Mangueiras, fruta-do- conde, carambolas, mangabas, cajú.
Não é Irene que passa faceira nos dias quentes das mariposas
É a sirene dos infernos
Podando a liberdade, viciando os minutos
dispondo o corpo a tortura, a morte e a dor.
Não é Irene que passa faceira, nos dias quentes das papoulas.
Não! não é Mara, Ana, Marianna que esquentam a vida,
dá sentido aos objetos, a casa.
É um bicho sibilante corrompendo,
Moendo, tirando cada fragmento do corpo,
Despedaçando no horizonte a música, a arte.
Fazendo guerra, empoerando o ar,
Construindo cemitérios, relógios.
Enterrando lobos e ovelhas,
Na América dos ossos...
Depois
Dispõem as frutas,
Comem as frutas,
mastigam as folhas de coca.
Elas estão em Irene,
em Mara, no suco, na travessa,
no findar do dia.
Olhem os campos
são distantes e estão em Ana.
Olhem as florestas são proximas
e estão em Marianna.
Olhem as Horas estão lacáias
em lâminas.
Escutem os choros das crianças
elas estão em mim e nas pombas.
Não é Irene é pavlov ciscando a mente.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os amantes.


Fissuras do amor, condutores de desperdicios.
Este monstro do engano que infiltra no outro criando a imagem da Madona, transformando a beleza em consumo, libélulas em joios, corroendo meu gerundio. Não! não se pode esperar da amante o que se perdeu na amada: ribaltas, músicas, cores, amores e lâminas.

Espessura.

Espesso como ferro, rocha, àtomos agrupados nos pedregulhos,
nas paredes, em pequenos cortes do espaço, do tronco, do silício.
Fósforo, potácio e pólvora espesso como fogo. E ladeando os extremos, as casas das bruxas, dos tiranos, dos que passaram sem perceber,
riscando as nuvens em zinco no circulo torpe dos minerais.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A rua.


A rua pigmentada em estado de pó, não o pó bíblico, mas a dos olhos da alma desvelada. Camponês da tarde que se evapora na ansiedade do cavaleiro, essa busca incessante do outro, do espelho, do cosmo que se esvai em chuva de formas multicores, que se espalha na rua.

O ser e o nada.


Quem sou eu?
Sou aquele que carrega os trigais, as Auroras, os rios, os pássaros, as cores, os espaços da fragmentação do ser.
E para onde vou?
Vou sem destino, atravessando veredas, campinas, savanas, desertos, caminhando para o nada, essa energia escura, compacta, elementar, uma particula da morte.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Humano, demasiadamente humano.


Meu pai, meu superego, envolvido no mundo dos movimentos, sua sinfonia de cores, como minotauro, descobrindo, revitalizando o labirinto, este comboio de cordas, da vida e dos cromatismos eternos.
Painel
Uns carregam ossos da família
e atravessam a tabacaria tatuados.
Os simbolos dominam a sociedade.
Uns adornam os corpos com belos brasões
e esperam serem vistos por outros.
Os simbolos determinam as castas.
Outros ladrão madrugada adentro
lendo poesia.
Alguns infelizes pintam anjos
buscando compreender sua fragilidade
e domesticação.
Gatos brincam nos telhados.
Roupas se estendem nos varais
dos alpendres: Um corpo infinito,
extenso no varal.
Leis são para serem cumpridas
enquanto existirem lacaios.
A alma é um balão vazio,
pois amores são amoras, rimas, vicios.
Viemos de uma explosão cambriana
para rastejar entre os pares.
Enquanto operarios saem das fabricas
com olhos toscos e famintos por alcool e sexo.
Os simbolos definem os prazeres.
Entretanto há suicidas, megalomaniacos,
paranóicos que esqueçeram as portas entreabertas
para o olhar curioso do bardo.
Que a cada minuto estouram os miolos.
Muitos fazem da religião sua bengala,
medo constante de si mesmo.
E a vida vai,
vai lamacenta morro abaixo,
vai como um rio, contorcendo,
um cão sem pluma.
Vai como um barqueiro solitário,
pescador de homens.
Vai em evolução, líquido mole, líquido duro,
se transformando em pedras.

Campo de Flores.


O tempo, o vento de flores varendo os passos imperceptíveis do caminho, do campo, em reluz, em foco, em sustento, alimento real, fruto perene, no trafegar do meu eu.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A essência precede a existência.


O processo da criação antecipa aleatoriamente a construção da existência, esta construção que compõem o sincretismo da vida e do seu movimento. Assim caminhamos pelo sertão do interior do ser.

Obra: A indústria do Silêncio.

O mundo do silêncio, a indústria esperando a presença da matéria; a matéria ocupando apenas o vazio, o medo, a angústia. Esta maquina morta e inútil.