segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O castelo ( em acabamento ) .
































Medida

O tempo medido no concreto do quarto.
O quarto na lâmina da vida em estado de parede.
Paredes que não tem fim.
O corpo nu na solidão do quarto.
So o espaço na confluência do rócio.
Espaço pelado, em decomposição, medido
no tempo dos relógios, dos símbolos, dos cantos.
Nada! nada...
Um provável numero que contorna a existência.
Vazio.
Estrela nos confins do cérebro.
Buraco negro,
Burro negro.
Negrume.
Nem um pé de milho!
Nem a foice, a faca!
Nuvem cinzas atravessando os olhos
que não vê o enxame de abelhas mortas no céu cinza.
Pássaros inexistentes, natureza morta.

Quando o nu do quarto
partira o nu do corpo?

Velas enfileiradas na mesa com cinzeiro
queimando o pulmão,
levantando fumaça que evaporam na boca.

Quando o nu do corpo
partira o nu do quarto?




Norte dos Montes

Escuro: forma torpe de energia.
O escuro da alma dantesca.
O escuro da morte.
Mente quem não vive no purgatório!
Negro como brasa,
Negro como ginete sem dono.
O escuro dos becos, favelas,
dos repressores, do homem sem sombra
numa avenida do mundo.
Na crosta,
abaixo da superfície,
do esgoto,
um rio de sangue negro,
purulento, viscoso,
das penitenciárias,
dos amores perdidos e alianças não trocadas.
Dos olhos verdes, do corpo colorido, rosa púrpura.
Dos cães sem plumas,
Dos gritos das araras que passam entupindo a tarde.
Meu querido, amado, meu irmão, meu filho.
Essa dor é como energia escura,
atravessando a solidão.
É como espada riscando o céu,
esmurrando paredes,
destruindo grades.
Esse berro é de amizade, paixão
no cimento cru destes montes.
E nesse som silencioso do meu pranto
espero a sua volta.


Esqueleto depois das chuvas.



Elas passaram por aqui

vaidosas, afogadas em cores abstratas.

achando pérolas em pedras,

consumindo prazeres ínfimos.

Passaram imponentes, orgulhosas de suas vidas.

Obsoletas, espoletas, na terceira guerra do corpo,

no terceiro vão da estrada.

Amigos desfizeram,

inimigos amigos.

Cativaram cadáveres no salto alto,

interraram miriades,

fotografaram vazios e fizeram espaços nas frestas do dia.

Corroeram o dia e plantaram flores no céu.

Passaram na ventania de janeiro,

triste sorriso, que o tempo apaga,

afoga, afana, corta em lâminas vegetais,

que o tempo, construtor da morte: Esqueçe.

Depois saltaram relâmpagos de gelo na

lingua vermelha de sague,

mentiram, perderam a mãe no açoite de Eros.

E na minha brevidade, vejo-as na amistosa luz da galaxia.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A industria do Silêncio: Pasárgada


A lei de pasárgada é destruir um leão
construir ruinas arquiológicas na mente.
A lei de pasárgada é contruir o novo,
a solidão em si.
Lá sou amigo do eu
dos passáros, dos felinos, lá sou
amigo do vinho e da cachaça.
Lá o tempo parou,
o tempo tanje as avenidas:
são cortes de sangue, labaredas dilucular
dos sonhos.
Em pasárgada as janelas são olhos
pungentes de Ibens, Nietzsche, Sartre e o
pranto de desalento, desencanto de Heidegger e Otto.
Cada janela é um despertar, um desvelar.
Contruir, contruir faz parte desse poço de memórias em pasárgada.
E nas minhas gaiolas, o som estridente alinhamento de lágrimas,
nas savanas, nas arribações, no silente assoviar da vida,
em metafísica, em pasárgada que muda, transforma,
pigmenta nuvens, moí, reforma, muda, sonha, morre peregrino
e constata para si que é inútil lutar contra o egoismo, a usura,
a mentira. Aqui não sou feliz!
E quando eu estiver triste, triste de não ter jeito, quando me der vontade
de me matar - lá a raça humana foi extinta, ceifadas com seus fracassos.
Lá escolherei o orvalho que enlaça a madrugada e a pureza das manhãs!
Por ti, oh pasárgada!
POEMA DO BARDO, CARDO, OTTO GRIBEL.
A MEIO CAMINHO DA EXISTÊNCIA E ESSÊNCIA

Na metade matemática do caminho do poeta italiano Dante /
havia uma selva escura que levava a um canto do inferno cantado pelo vate /
Era a metade do caminho da vida do poeta : a meia-idade talvez /
o tempo naquele tempo em que o homem encetava o caminho para o túmulo /
cavado antes em cova na terra /
onde o corpo repousaria sob o solo /
na parte inferior da terra /
que os antigos denominavam conotativa e denotativamente de inferno /
ou lugar onde habitam os mortos /
No meio caminho do poeta Carlos Drumond de Andrade /
não existia nem floresta negra ou turva /
nem havia uma pedra /
mas tinha uma pedra /
Rigorosamente na exatidão poética do meio do caminho /
o poeta tinha uma pedra /
possuía uma pedra no meio do caminho /
era dono e senhor de uma pedra que lhe estorvava metade do caminho /
Havia e tinha uma pedra pelo meio cortada no seu ser de pedra /
pedra meio ontológico e meio objeto de posse e propiedade de senhores /
no ter do ato de posse que caracteriza a atitude possessiva do homem /
Ente com a metade no ser /
e a outra metade pétrea fora da ontologia /
encravada no direito de propriedade na metade do ato de ter suscitado pelo homem /
( um ser meio fora do ser /
e uma possessão estilhada no espírito do poeta /
graças a algum acidente /
que jogou metade da pedra para fora do ser /
na existência onde a outra metade /
a metade que se pode possuir como pedra preciosa /
pairou entre a essência e a existência
a cavaleiro do nada poético ou filosófico ) /
O canto de Carlos Drumond de Andrade dicotomiza ser e ter : /
o ato de possuir e o fato de ser /
num amplexo que extrapola a ontologia e ao ato possessivo humano /
o ser da pedra captado pelo saber do homem enquanto indivíduo livre /
e o ter a pedra capturada e industrializada em gemas ou castelos medievais /
pela sociedade que transforma a pedra e a põe no mercado /
sendo o mercado o meio do caminho /
onde o homem não pode mais passar /
tolhida sua liberdade pela propriedade da pedra /
e pela metade do seu próprio caminho que não mais lhe pertence /
alienado que foi pela industrialização da pedra /
quando ainda tomava apenas metade do caminho /
Hoje o caminho está hermeticamente fechado /
e quem invadir a propriedade estará sujeito às penas da lei e da fênix /
porque simultâneamente há e tem uma pedra no meio do caminho /
Há e tem um monstro no meio do caminho /