sábado, 19 de abril de 2014

Um Traço De Mãe



















Quando faiscava: fósforo e enxofre, 
tinha luz.
Quando brilhava o espaço: 
tinha...tinha mãe no composto orgânico da vida,
tinha mãe:
estórias, caminhos, pigmentos,
luz.
Depois do terremoto
tempo e traço
corpo de baile
corpo de carnes quentes
na taça do cérebro!
Um celeiro de almas condenadas
olhando...
correndo em busca de ar...
beijando borboletas sem asas...
vendo cães com plumas.
Empoleiramos e nos dividimos
ficamos a olhar a estrada...
órfãos!
Este mar era um rio,
também florestas
em que cores dançavam de estrelas
e transparências fugaz se
perdiam no traço,
em construções 
translúcidas,
cidades invisíveis,
máquinas moedoras
do dia.
Adeus minha mãezinha querida! 
Leva consigo todas as flores do meu corpo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

















Meu amado poeta Otto Gribel

Meu nome é Otto Gribel /
cuja cruel onomástica /
cava um buraco negro de tatu no chão /
para fugir para o outro lado da fuga fugaz /

por um Cezar que impera em mim /
desde Roma republicana /

Estou deste lado do mundo /
às vezes ao norte da bússola /
outra sem sul magnético /

ainda outras a barlavento ou sotavento /

para onde soprar o vento na palmeira /
que guardou no tempo o vespeiro /
pelo qual me apaixonei /

ao ver os marimbondos pintalgados de preto e branco /
elegantes e discretos e sobranceiros /
sem medo de ninguém sem de nada /
mesmo indiferentes ao vento tempestuoso /
- a ventania que ulula eivada de lobos-cervais /
Estou em um lado do mundo /
dentro do meu ego inamovível /
que no entanto não é óbice /

para eu estar plantado do outro lado do mundo /

que é em outro ego que não o meu ego /

O outro lado do mundo /
ou o outro lado do meu ego /

vive longe de mim /
léguas a pé de arcanjo com asa quebrada pela bebedeira nocturna /
que trafegou álcool de cerveja por toda a madrugada /
talhada para sono com canto de galo xadrez /

Do outro lado do mundo/
ou do meu ego /

está meu irmão Ivan Gribel /
( Santo Etienne de minha avó! /
- Saint-Etienne, Loire, France ) /

pintando seus quadros /

(amei o castelo a caminho! /
porquanto o castelo me evoca a torre de Babel ) /

Outrossim há outros sete egos /
de mulheres e homens no setentrião /
uns austrais outros boreais /
todos prontos para atravessar o Rubicão da alteridade /
que de fato é ato impossível /
excepto no que há no ato no onírico /
onde o ser humano age como Deus todo-poderoso /
( Meu semblante feminino em Sandra ou Marly Gribel ) /


le com sua vida seu ego e seus poemas /

sendo meu outro eu genético em outro tempo na idade /

e outra terra no espaço /
(não sei se a latitude que ele se risca no mapa /
é mais setentrional ou austral /
sei que a oriente cintila meus pais /
sóis que giram feito girassóis matinais /
antes do despertar do primeiro homem ou menino /
ou mulher ou menina presa ao cordão umbilical do sonho /
que ainda reina na alva em fronha do travesseiro ) /

Além dele tem meu filho Gilson Gribel /
minha filha Ana Luiza Gribel /
(que também têm terra de minha esposa ) /

e um neto que começa a olhar do berço /
num mundo em que ele também está do outro lado /
- centrado no próprio ego /
que o fará ser individual /
mas também nos egos do outro lado do berço /
os quais ele observa no pai e mãe /

terras mais juntas e próximas a ele com água no leite e no mel /
e terras molhadas por chuvas com mariposas e pirilampos e vaga-lumes /
de onde veio o avô e a avó /


Em em sangue corre outros mares /
outras terras vegetam /
conquanto não localize eu suas longitudes no mapa-múndi /
- longitudes de egos ainda que próximos em semente /
e não tão-somente o que está em potência seminal /
( Sem embargo no mapa-terra e no mapa-água /

que meu corpo cartógrafo tracejou /

sei que navego no sangue do mar oceano /
do doce que há nas água de lá /
onde há o que são terras além-mar /

e vegeto no solo de onde vim /
erva hera liana árvore arbusto ) /

Meu neto é planta em outro tempo e outro espaço /
juntando a terra de Adão /
a terra do avô novamente /

minha terra cavando dentro dele /
que traz a semente vegetal /

Nesse ínterim Osvaldo José Gribel /
se acha nas masmorras da inquisição /

no covil do ladrões fanáticos /

na cova dos leões /

( assim como o fez o profeta bíblico Daniel /
varão virtuoso e evidentemente sábio /
porquanto é isso o que significa o escrito sobre este profeta /
no seu sentido real e vital /
- vector em vida temporal e espacial /
não meramente algo abstracto alegórico ou simbólico ) /

a fim de exorcizar a profecia /
e desmascarar a corja que se julga justiceira /
quando a justiça aqui não passa de uma hipocrisia /

que brinca de cabra-cega /

com a súcia que a comanda /

passando pelo comando vermelho /
- que abre a aurora ao rosicler /
despetala e especula o orvalho raiado de sol matinal /
surrealiza salvador Dali /
aqui neste país de debilóides e toscas individualidades /
de foras-da-lei e boçais no poder /
pilotando a estupidez generalizada /
a peste endêmica que grassa /
numa terra sem homens virtuosos /
sem senso de decência ou do ridículo /

aonde a besta prevalece sobre o homem /

e sai célere em perseguição aos quatro cavaleiros do Apocalipse /
- pois aqui o Apocalipse é pior /
que o anunciado no livro das Revelações de João /
( que não deve ser de nenhum João /
ou de ninguém apelidado de João /
que João é ninguém /
e ninguém é João /
no país das maravilhas inversas /
sem rasto de Alice no mapa da ternura /
- porquanto aqui é onde não existe ninguém /

exceptuado o João-ninguém inato /
o típico papalvo e parlapatão /
o povo do canastrão e do bufão /
que galgou o poder ) /


Este o Brasil-truão /

tripartido em poderes de riso e lágrimas amaras /
- amaríssimas, Joaquim Maria Machado de Assis! /

A CAÇADA

o Tamburi florido, frutificando a terra que tomba aos pés do dia em gritos de pássaros e da adolescência perdida. A arma que carrego é o corpo, ácido, feroz , animal aborrecido que na espera olha cansado
a floresta densa.
O que busco?
As grades da solidão esticadas na rede?
Meu ultimo suspiro ou a hora fugas da morte?
Mas estalando como brisa
o dia perturba a vida.
Vai em tombos, tambores, pastoril, rocío, erva,
enchendo a mata de barulhos breves.
SILÊNCIO!
O animal esta na mira.
O tiro certeiro,
o fogo no cano,
a queda e o sangue quente escorrendo na memória,
na percepção ilusória da realidade
e nessa jornada involuntária pela terra.
Agora carrego o meu corpo no ombro como um herói épico.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O castelo ( em acabamento ) .
































Medida

O tempo medido no concreto do quarto.
O quarto na lâmina da vida em estado de parede.
Paredes que não tem fim.
O corpo nu na solidão do quarto.
So o espaço na confluência do rócio.
Espaço pelado, em decomposição, medido
no tempo dos relógios, dos símbolos, dos cantos.
Nada! nada...
Um provável numero que contorna a existência.
Vazio.
Estrela nos confins do cérebro.
Buraco negro,
Burro negro.
Negrume.
Nem um pé de milho!
Nem a foice, a faca!
Nuvem cinzas atravessando os olhos
que não vê o enxame de abelhas mortas no céu cinza.
Pássaros inexistentes, natureza morta.

Quando o nu do quarto
partira o nu do corpo?

Velas enfileiradas na mesa com cinzeiro
queimando o pulmão,
levantando fumaça que evaporam na boca.

Quando o nu do corpo
partira o nu do quarto?




Norte dos Montes

Escuro: forma torpe de energia.
O escuro da alma dantesca.
O escuro da morte.
Mente quem não vive no purgatório!
Negro como brasa,
Negro como ginete sem dono.
O escuro dos becos, favelas,
dos repressores, do homem sem sombra
numa avenida do mundo.
Na crosta,
abaixo da superfície,
do esgoto,
um rio de sangue negro,
purulento, viscoso,
das penitenciárias,
dos amores perdidos e alianças não trocadas.
Dos olhos verdes, do corpo colorido, rosa púrpura.
Dos cães sem plumas,
Dos gritos das araras que passam entupindo a tarde.
Meu querido, amado, meu irmão, meu filho.
Essa dor é como energia escura,
atravessando a solidão.
É como espada riscando o céu,
esmurrando paredes,
destruindo grades.
Esse berro é de amizade, paixão
no cimento cru destes montes.
E nesse som silencioso do meu pranto
espero a sua volta.


Esqueleto depois das chuvas.



Elas passaram por aqui

vaidosas, afogadas em cores abstratas.

achando pérolas em pedras,

consumindo prazeres ínfimos.

Passaram imponentes, orgulhosas de suas vidas.

Obsoletas, espoletas, na terceira guerra do corpo,

no terceiro vão da estrada.

Amigos desfizeram,

inimigos amigos.

Cativaram cadáveres no salto alto,

interraram miriades,

fotografaram vazios e fizeram espaços nas frestas do dia.

Corroeram o dia e plantaram flores no céu.

Passaram na ventania de janeiro,

triste sorriso, que o tempo apaga,

afoga, afana, corta em lâminas vegetais,

que o tempo, construtor da morte: Esqueçe.

Depois saltaram relâmpagos de gelo na

lingua vermelha de sague,

mentiram, perderam a mãe no açoite de Eros.

E na minha brevidade, vejo-as na amistosa luz da galaxia.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A industria do Silêncio: Pasárgada


A lei de pasárgada é destruir um leão
construir ruinas arquiológicas na mente.
A lei de pasárgada é contruir o novo,
a solidão em si.
Lá sou amigo do eu
dos passáros, dos felinos, lá sou
amigo do vinho e da cachaça.
Lá o tempo parou,
o tempo tanje as avenidas:
são cortes de sangue, labaredas dilucular
dos sonhos.
Em pasárgada as janelas são olhos
pungentes de Ibens, Nietzsche, Sartre e o
pranto de desalento, desencanto de Heidegger e Otto.
Cada janela é um despertar, um desvelar.
Contruir, contruir faz parte desse poço de memórias em pasárgada.
E nas minhas gaiolas, o som estridente alinhamento de lágrimas,
nas savanas, nas arribações, no silente assoviar da vida,
em metafísica, em pasárgada que muda, transforma,
pigmenta nuvens, moí, reforma, muda, sonha, morre peregrino
e constata para si que é inútil lutar contra o egoismo, a usura,
a mentira. Aqui não sou feliz!
E quando eu estiver triste, triste de não ter jeito, quando me der vontade
de me matar - lá a raça humana foi extinta, ceifadas com seus fracassos.
Lá escolherei o orvalho que enlaça a madrugada e a pureza das manhãs!
Por ti, oh pasárgada!
POEMA DO BARDO, CARDO, OTTO GRIBEL.
A MEIO CAMINHO DA EXISTÊNCIA E ESSÊNCIA

Na metade matemática do caminho do poeta italiano Dante /
havia uma selva escura que levava a um canto do inferno cantado pelo vate /
Era a metade do caminho da vida do poeta : a meia-idade talvez /
o tempo naquele tempo em que o homem encetava o caminho para o túmulo /
cavado antes em cova na terra /
onde o corpo repousaria sob o solo /
na parte inferior da terra /
que os antigos denominavam conotativa e denotativamente de inferno /
ou lugar onde habitam os mortos /
No meio caminho do poeta Carlos Drumond de Andrade /
não existia nem floresta negra ou turva /
nem havia uma pedra /
mas tinha uma pedra /
Rigorosamente na exatidão poética do meio do caminho /
o poeta tinha uma pedra /
possuía uma pedra no meio do caminho /
era dono e senhor de uma pedra que lhe estorvava metade do caminho /
Havia e tinha uma pedra pelo meio cortada no seu ser de pedra /
pedra meio ontológico e meio objeto de posse e propiedade de senhores /
no ter do ato de posse que caracteriza a atitude possessiva do homem /
Ente com a metade no ser /
e a outra metade pétrea fora da ontologia /
encravada no direito de propriedade na metade do ato de ter suscitado pelo homem /
( um ser meio fora do ser /
e uma possessão estilhada no espírito do poeta /
graças a algum acidente /
que jogou metade da pedra para fora do ser /
na existência onde a outra metade /
a metade que se pode possuir como pedra preciosa /
pairou entre a essência e a existência
a cavaleiro do nada poético ou filosófico ) /
O canto de Carlos Drumond de Andrade dicotomiza ser e ter : /
o ato de possuir e o fato de ser /
num amplexo que extrapola a ontologia e ao ato possessivo humano /
o ser da pedra captado pelo saber do homem enquanto indivíduo livre /
e o ter a pedra capturada e industrializada em gemas ou castelos medievais /
pela sociedade que transforma a pedra e a põe no mercado /
sendo o mercado o meio do caminho /
onde o homem não pode mais passar /
tolhida sua liberdade pela propriedade da pedra /
e pela metade do seu próprio caminho que não mais lhe pertence /
alienado que foi pela industrialização da pedra /
quando ainda tomava apenas metade do caminho /
Hoje o caminho está hermeticamente fechado /
e quem invadir a propriedade estará sujeito às penas da lei e da fênix /
porque simultâneamente há e tem uma pedra no meio do caminho /
Há e tem um monstro no meio do caminho /

domingo, 18 de outubro de 2009

Invasão Barbara



No covil do lobo,
o Bárbaro sou Eu: comedor de borboletas e batatas.
Comedor de lobos no monte Sião.
Pregando os fractais,
a relatividade de Aisten
cheirando bosta.
E na invisibilidade de Deus,
imovel,
construindo téias: Teologia do fenômeno,
Destruindo o ego,
construindo aranhas.
O Bárbaro sou Eu!
Olhando filetes de água do velho Chico,
nos redemoinhos do gramulhão,
da palavra torta,
do adeus a Barbara, Marina, Neusa
que lavam roupas na margem do tempo - espaço.
Bandeiras do surealismo da língua,
barbarismo desse pingador de cores.
Nas ramagens e essencias, nas folhas das rosas,
estão sapatos floridos.
Retratos do passado nas covas dos filtros.
Sentinelas...
Sentinelas escutam no fundo do mundo o ladrar dos cães.
Fazem concílios,
enterram meu coração num espeto.
A esperança é um inseto que deixou de voar.
No covil do lobo o Bárbaro sou Eu.
Quarta - Vereda
Nublou nesse lado norte da
terceira vereda. Encima das copas cai
pingos de açucar que cristalizam
o chão maneta.
Do outro lado da encosta
Chove,
Chuva fina, melando o lôdo do dia.
No céu pirilampos, luzindo,
dita cores ao ar.
No caminho da cidade, meninos
turvos, jogam bolas quadradas. Alatéia!
Alatéia! um grego passou
pela quarta vereda.
Espaços são contruidos,
luas morrem,
caes são percusos dos homens.
Na quarta vereda não há construções,
o lixo não se acumula
Bambus se vergam ao sul,
e o pensamento, argamassa
do sonho, mora ao lado do ente.
Dentro do Eu na noite morna.
O que eu faço do meu deserto,
desfolhados na noite vespeira e morna.
Calco nos vôos das corujas que
vigiam os paralelepípedos do lusco-fusco, Silibí
e artéria da noite. Deserto de outros, comuns,
carregadores de ossos, defuntos,
no vento frio da madrugada.
Homens e ratos, percevejos
das camas; homens e felinos.
Trombetas, toque sereno, suave pedalar da vida.
Gritos! Gritos...
Devoram o canavial do cerebro!
Arrancam raizes do corpo!
Desfraldam simbolos do silêncio na bigorna,
Lubrificam deuses.
Ladram debaixo das oitisicas.
Ladram! Ladram...
O eco reluz na distância,
na luz transparente do espaço.
A noite vai afogando meu saara
no sono fino do vicio.
Fumo pensando em flor de araçá.
Entorpece o esqueleto, outro rio irá
correr vadio na noite morna.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os fanáticos


















A tribo dos loucos varre a rua com ritus,
cantam réquiem antigos, faustianos,
veneram a morte.
Perderam o sentido da beleza,
conduzem seu bonde pelos caminhos dos outros,
riem dos outros.
Acreditam na eternidade,
valorizam o passado,
pedem perdão,
humildemente choram.
Enquanto a águia risca o céu no filamento,
nos pontos de cores, numa guerra constante
com o ar laminado.
Em lâminas as estátuas cortam o tempo,
colosso do interno, do profundo, do inútil.
Enterrado no coração da terra, no intimo
dos ossos, oferenda ao deus do medo,
da estúpida covardia. É como um átomo sem direção.
_ Homem, cadê o fogo da alma!
Não há alma! Não há alma.
_ Homem aonde esconde a vida?
No mito! Perde a vida: sua construção
consome o gás das estrelas.
Eles alimentam os filhotes, gaturamos
da próxima cria
e depois vomitam vidros coloridos.
Nuances! Nuances!
Amansam os lobos do espírito
pois a nebulosa tanje cada pedaço
dos seus corpos
imitam os gregos e profanam épicos cantos gregorianos.
Absalão! Absalão!
Levantam os braços como Moisés
esperando que o mar vermelho
infiltram pelos seus estômagos poluidos.
Aleluia! Aleluia!
E nesse jogo os fanáticos brincam
no arraial do cérebro.

Carnaval Doméstico.

A relva tricoteia
musgo nos trópicos,
chicoteia o sol.
Fogo morto na queimação do
estômago.
Amargo despertar!
Tenho uma estrela de nêutron no peito.
Enigma da minha vida.
Dentro do corpo
uma estrela de nêutron
que me conduz entre os faróis do tempo.
Vagando solitária
nessa floresta de sangue.
Solitária, tangenciando o espaço,
vagueia a garça no carnaval das nuvens.